Opinião/Informação:
Toda vez que vejo esse fogo no Amazonas, um estado com 97% de sua floresta preservada, mas com 65% da população vivendo na pobreza, me pergunto: até quando vamos seguir ignorando a desigualdade do interior?
Lá, não há atividade econômica regular. Não há REDD+ funcionando . O crédito de carbono nunca chegou no bolso do caboclo que preserva a floresta. Não temos sequer o Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) implementado — e as ONGs, que dizem defender o meio ambiente, ignoram esse tema propositalmente, pois ele abriria caminho para o desenvolvimento sustentável.
Enquanto isso, a Polícia Federal continua destruindo equipamentos usados em ilícitos ambientais no interior: tratores, aviões, tanques de combustível, motores, balsas… tudo vai pro fogo. Isso, numa das regiões mais pobres do Brasil. Será que não seria mais racional, justo e ambientalmente correto leiloar ou doar esses bens para as comunidades locais?
O fogo dos ilícitos destrói não só as máquinas, mas também as possibilidades de geração de renda para pessoas que, muitas vezes, estão ali por falta de opção — e que, após a operação, ficam desempregadas e invisíveis. Por que não transformar o prejuízo em oportunidade?
Há um contraste que salta aos olhos:
- Nas capitais, quando a PF apreende carros de luxo de criminosos, eles são preservados, leiloados ou utilizados pelo próprio Estado.
- Já no interior do Amazonas, onde a pobreza é estrutural, a prática ainda é a destruição dos bens, mesmo que pudessem ser úteis ou revertidos em benefício da sociedade.
O delegado e ex-superintendente da PF no Amazonas, Alexandre Saraiva, já afirmou com clareza que os ilícitos ambientais na região são conduzidos por organizações criminosas com alto poder econômico e influência. E ele está certo. Com tantos satélites e tecnologias de rastreamento disponíveis, como é possível que as movimentações de grandes máquinas no meio da floresta passem despercebidas?
A destruição de equipamentos é simbólica, mas não resolve o problema estrutural, apenas o empurra para mais longe. Queimar bens com valor comercial, técnico e social — num estado com um dos maiores índices de pobreza do país — é um desperdício de recursos e uma agressão à lógica da justiça ambiental.
Não estou aqui para criticar o trabalho da PF — que cumpre ordens. Mas sim para propor: essas determinações podem e devem ser revistas. É hora de pensar em políticas públicas que enxerguem o caboclo como parte da solução, não como obstáculo.
O caboclo do interior que vive da floresta, que preserva o verde, não quer ver a fumaça da destruição cobrindo o céu limpo do Amazonas. Ele quer oportunidade. Ele quer dignidade.
E, honestamente… quem não queria um avião, um trator ou um tanque de diesel sendo usado para o bem?
THOMAZ RURAL
THOMAZ RURAL


Um comentário sobre “Por que não transformar o prejuízo em oportunidade? Há um contraste que salta aos olhos…”
Não sei até que ponto seria bom manter esses bens utilizados para práticas de crimes.
A enredo da história criada é bonito, mas o desfecho poderá ser outro.
Digo isto lembrando que criminosos tiveram seus bens devolvidos pelo judiciário.