O autor deste artigo que está no BNC é um dos grandes conhecedores da cadeia de fibras de juta e malva, estudioso no tema, inclusive visitando outros países produtores. Ele escreve uma grande verdade, mas eu ainda não perdi as esperanças de ver Parintins sem fome, com emprego e renda digna. Autor insiste, corretamente, em “…retomar urgentemente a pegada agroindustrial da bela cidade de Parintins, afinal, sem emprego e sem renda para a sua população de nada adianta ser uma cidade mundialmente famosa...”.
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THOMAZ RURAL
Parintins fez a escolha errada
09/09/2023 04:00
Aldenor Ferreira*
Garantido e Caprichoson jamais entregaram o que a Fabril Juta e as atividades ligadas à agropecuária entregaram ao município em geração de emprego e arrecadação
A cidade de Parintins sofre há pelo menos quatro décadas com o desemprego estrutural. Entra governo, sai governo e o desalento é o mesmo. A realidade da maioria da população é marcada pelo subemprego, pelo trabalho precarizado, flexibilizado, subcontratado e pouco remunerado.
Com efeito, houve um tempo em que a realidade era outra. Uma realidade possibilitada pela instalação na cidade da industrial têxtil de juta, capitaneada pela lendária fábrica da FABRILJUTA S/A e pelas prensas Brasmentol Caçapava Comércio e Indústria Ltda., Martins Melo S. A. Indústria e Comércio, Sobral Santos S. A. Comércio e Indústria e Exportadora de Juta Parintins Ltda.
A atividade da juta em Parintins foi o maior empreendimento agroindustrial que o interior do Amazonas já conheceu. A fábrica da FABRILJUTA na cidade de Parintins chegou a funcionar em três turnos. Havia ônibus para levar e trazer os trabalhadores e cerca de mil funcionários empregados diretamente.
Esta atividade agroindustrial foi a principal responsável pela melhoria da infraestrutura do município. É desse período a implementação da rede bancária, do porto e do aeroporto na cidade. Parintins tinha uma dinâmica econômica encontrada somente no Sul e no Sudeste do Brasil dos dias atuais, no que tange ao sistema de agroindústria.
Histórico
De 1950 até a primeira metade da década de 1980, Parintins respirava ares de modernidade. Só para se ter uma ideia deste cenário, havia cinema e teatro na cidade, algo inimaginável para qualquer município do interior do Amazonas naquele período. O movimento era intenso no porto, no aeroporto, nas lojas e nas feiras. A cidade era próspera porque tinha indústrias e pleno emprego.
Trata-se de uma realidade que não é vista, atualmente, em nenhuma cidade do interior do Estado do Amazonas, onde o fraco desempenho da economia não proporciona emprego e renda de maneira satisfatória para a população, sendo a causa principal de migração para a capital, que concentra mais de 60% de toda a população amazonense.
A cidade de Parintins cresceu, mas não se desenvolveu. Há uma enorme diferença entre crescimento e desenvolvimento. O abandono da pegada agroindustrial da cidade e o mergulho na ideia de torná-la uma cidade turística, no meu entendimento, foi uma tragédia.
Os bois Garantido e Caprichoso, protagonistas do Festival Folclórico de Parintins, uma das maiores festas populares do mundo, jamais entregaram o que a FABRILJUTA e as atividades ligadas à agropecuária entregaram ao município em termos de geração de emprego e arrecadação.
Certamente, é muito bom ser famoso, mas a fama deve vir acompanhada de bens materiais e infraestruturas dos quais os munícipes possam gozar, tais como: saneamento básico, serviço de saúde, de Internet, de transporte, de habitação, entre outros.
Concluo, afirmando que a sociedade civil e a sociedade política fizeram a opção errada. Optaram por Parintins se tornar uma cidade turística, ao invés de continuar sendo uma cidade agroindustrial. Neste sentido, Parintins, que já teve muitas oportunidades de emprego, hoje sofre com a falta dele, sendo acometida por toda sorte de problemas sociais como tráfico de drogas, roubos, assaltos, violência de maneira geral.
Portanto, é preciso retomar urgentemente a pegada agroindustrial da bela cidade de Parintins, afinal, sem emprego e sem renda para a sua população de nada adianta ser uma cidade mundialmente famosa.
*Sociólogo
Arte: Gilmal