Opinião/Informação:
Sou contrário a esse tipo de decisão, porque o principal problema dos povos indígenas não é a falta de terra, e sim a falta de dignidade. O que falta nas comunidades indígenas hoje é alimento regular, renda, água potável, saneamento, energia, internet, telefonia celular, acesso a políticas públicas e atividade econômica sustentável. Demarcar mais terras, por si só, não resolve nada disso. Causa estranheza ver alguns doutores da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) insistirem na tese de que mais terra, automaticamente, trará dignidade aos povos indígenas, enquanto esses mesmos indígenas continuam morrendo sem qualquer assistência adequada, sem saúde, sem renda e sem perspectivas reais de futuro. É uma visão acadêmica distante da realidade concreta das aldeias. Esses mesmos “especialistas” ignoram deliberadamente a existência de agricultores familiares que vivem e produzem nessas áreas há anos e que, caso esse processo avance, serão obrigados a sair, ampliando conflitos sociais, insegurança jurídica e injustiça no campo. Não se pode falar em justiça social apagando a realidade de quem trabalha e produz alimento. A FUNAI insiste em concentrar esforços quase exclusivamente na demarcação, enquanto o indígena continua sendo usado como argumento político e instrumento para captação de recursos, sem que isso se traduza em melhoria efetiva da vida nas comunidades. A terra cresce no papel, mas a pobreza, a dependência e a exclusão permanecem. Estamos falando de uma área equivalente a 27 mil campos de futebol. Decisões dessa magnitude não podem ser tomadas a partir de discursos ideológicos ou de gabinetes climatizados, desconectados do chão da floresta e da realidade social. E vale lembrar: as urnas já deram seu recado para alguns doutores. Nem mesmo aliados políticos demonstraram confiança nessas narrativas. O povo percebe quando há discurso, mas não há resultado.
Se houvesse compromisso verdadeiro com os povos indígenas, a prioridade seria outra:
- geração de renda,
- cadeias produtivas estruturadas,
- apoio à produção indígena,
- acesso a mercados,
- educação conectada,
- saúde de qualidade,
- água, energia e comunicação.
Sem isso, demarcação vira fim em si mesma, e não instrumento de desenvolvimento humano.
O indígena não precisa apenas de terra.
Precisa de dignidade, autonomia, oportunidade e futuro.
THOMAZ RURAL



