A história que contamos hoje começa em 2016, quando a Embrapa Amazônia Ocidental passou a atuar mais de perto com comunidades ribeirinhas da região de Manaus. O foco era claro: fortalecer a fruticultura amazônica — especialmente a produção de banana, guaraná e açaí — e criar caminhos reais de inclusão socioprodutiva para as famílias que vivem às margens dos rios.
Desde então, tecnologia e tradição passaram a caminhar juntas, aproximando saberes, fortalecendo vínculos e transformando vidas.
Lideranças que brotam junto com o território
Uma das primeiras ações foi identificar e formar lideranças locais. Agricultores e agricultoras tornaram-se multiplicadores de conhecimento, aprendendo novas técnicas, testando no campo e compartilhando com as demais famílias. Essas lideranças hoje funcionam como pontes vivas entre o conhecimento científico e o saber tradicional ribeirinho.
Mas o objetivo sempre foi maior do que apenas aumentar a produtividade. A proposta era promover inovação tecnológica aliada à inovação social — estimulando cooperação, redes de apoio, intercâmbios entre comunidades e fortalecimento do protagonismo local.
Guaraná e açaí: duas culturas, muitos futuros possíveis
Com o tempo, guaraná e açaí tornaram-se protagonistas dessa transformação. No Amazonas, o guaraná ainda produz abaixo do seu potencial, mesmo com grandes indústrias instaladas em Manaus — o que abre portas importantes para a agricultura familiar. O açaí, por sua vez, segue como símbolo da Amazônia e produto de alto valor, com demanda crescente no Brasil e no mundo.
Nas comunidades atendidas, melhorias no manejo, no plantio, na colheita e no pós-colheita fizeram com que essas culturas deixassem de ser apenas possibilidades e se tornassem pilares de segurança alimentar e geração de renda.
Esse avanço só foi possível graças à construção de uma rede de colaboração envolvendo Embrapa, lideranças comunitárias, organizações locais e instituições de ciência e tecnologia, como a FAPEAM, que teve papel essencial na qualificação técnica e no fortalecimento das iniciativas comunitárias.
Quando o território vira marca
Um dos momentos mais marcantes dessa jornada aconteceu em 5 de dezembro de 2025, durante a confraternização anual do projeto na Paróquia São Francisco, na periferia de Manaus. Ali nasceram duas marcas coletivas:
Açaí Ribeirinho
Guaraná Ribeirinho
Criadas pela comunidade ribeirinha do Jatuarana, essas marcas representam muito mais do que um rótulo. Elas carregam identidade, história, pertencimento e o reconhecimento de um trabalho construído a muitas mãos.
O processo de organização e estruturação das marcas contou com o apoio fundamental da FAPEAM, que ajudou a orientar a comunidade na definição da identidade visual, na adequação às exigências legais e na preparação para acessar novos mercados. Esse suporte técnico e institucional deu segurança às famílias para dar um passo que transforma agricultores em protagonistas do próprio mercado.
Resultados que se multiplicam como sementes
Com o fortalecimento dos cultivos e a consolidação das novas marcas, os resultados começaram a surgir de forma concreta. A renda das famílias tornou-se mais estável ao longo do ano, permitindo maior capacidade de investimento em equipamentos e melhorias nas atividades produtivas. Ao mesmo tempo, a dependência de atravessadores diminuiu, abrindo espaço para uma comercialização mais justa e vantajosa, alinhada ao valor real do trabalho das comunidades.
No entanto, os efeitos mais profundos desse processo vão além dos números. Houve um visível fortalecimento da autoestima comunitária, acompanhado de um interesse renovado dos jovens em permanecer no território e construir seus projetos de vida a partir das oportunidades criadas localmente. A valorização dos modos de vida ribeirinhos tornou-se ainda mais evidente, assim como o reconhecimento dessas comunidades como parte essencial da bioeconomia amazônica.
As marcas Açaí Ribeirinho e Guaraná Ribeirinho representam, portanto, muito mais do que produtos: são a síntese de um processo coletivo que une ciência, tradição e cooperação comunitária para redesenhar futuros possíveis.








