Opinião/Informação:
Reflexão do engenheiro de pesca, Leocy Cutrim, que já comandou a pesca e aquicultura do Amazonas diante do DIA DO AQUICULTOR. Ele reforça que a questão do licenciamento ambiental e regularização fundiária tem levado a migração de produtores para Roraima e Rondônia. Achei muito boa a reflexão, que passo a divulgar:
THOMAZ RURAL
“…Hoje, no Dia da Aquicultura, compartilho reflexões sobre essa atividade essencial para o Amazonas, estado com vastos recursos hídricos e um enorme potencial aquícola ainda subaproveitado.
O Lago de Balbina, um dos maiores lagos artificiais do país, possui condições ideais para piscicultura em tanques-rede, já destacadas por Kazuo Oka. No entanto, a falta de regulamentação dificulta seu aproveitamento.
Principais Espécies Cultivadas
O tambaqui é a espécie mais cultivada e comercializada. O “curumim” (400-500g), conceito introduzido pelo saudoso Geraldão, tem conquistado o mercado, mas enfrenta desafios de precificação. Já o tambaqui de 3kg (roelo) tem mercado consolidado, especialmente após a retirada das espinhas, tornando-se destaque em restaurantes e supermercados.
O pirarucu enfrenta desafios devido à concorrência do pescado manejado e clandestino, além dos altos custos de alimentação e alevinos. Iniciativas como tanques de ferrocimento e viveiros buscam tornar viável uma versão “curumim” dessa espécie. O matrinxã, de grande relevância nacional, sofre com a irregularidade no fornecimento de alevinos, mas sua demanda cresce, incentivando pesquisas para melhorar a produtividade.
Desafios e Oportunidades
Manaus tem um consumo per capita de 33,7 kg/ano, muito acima da média nacional (10,5 kg/ano), mas ainda há potencial para expandir a piscicultura no interior, onde a infraestrutura e incentivos são limitados. A melhoria de estradas, incentivos ao consumo e políticas públicas são essenciais para fortalecer a atividade. O custo da ração, que representa cerca de 80% da produção, tem sido reduzido graças a compras coletivas promovidas por cooperativas como COOPAQUAM e CAPRUC, tornando a atividade mais viável. O licenciamento ambiental e a burocracia fundiária dificultam novos empreendimentos aquícolas no estado, levando produtores a migrarem para Rondônia e Roraima. A revisão da legislação e a unificação dos processos de regularização são fundamentais para o crescimento sustentável do setor.
Políticas Públicas e Incentivos
A criação da Secretaria de Estado da Pesca e Aquicultura (SEPA) é um avanço, mas é necessário garantir políticas consistentes, como fomento à produção de alevinos, melhoria da infraestrutura e incentivos financeiros. Programas como crédito rural (AFEAM, BASA, SICRED, BB) e assistência técnica (IDAM, EMBRAPA, SENAR) têm sido fundamentais. A pesquisa e inovação também são essenciais, com destaque para o trabalho da EMBRAPA no uso de aeradores e no melhoramento genético, incluindo a possibilidade de inibir o crescimento da espinha em “Y” no tambaqui.
Perspectivas Futuras
Com lucros que superam 60%, preço de venda aquecido e custos controlados, a piscicultura no Amazonas se mostra atrativa. O investimento em tecnologia, capacitação e infraestrutura pode consolidar o estado como referência nacional na produção de pescado. A verticalização da cadeia produtiva, com beneficiamento e agregação de valor, pode aumentar a competitividade e garantir a sustentabilidade do setor. Apesar dos desafios, a aquicultura tem um enorme potencial e merece ser incentivada…”
VIVA A AQUICULTURA DO AMAZONAS!
Leocy Cutrim dos Santos Filho
MSc. Eng. de Pesca | @leocycutrim