Opinião/Informação:

Muito boas as colocações de Denis Minev, publicadas nas páginas de O Globo no último dia 16/11. Este blog, Thomaz Rural, mantém seu foco na defesa do setor primário do Amazonas, sempre em sintonia com a sustentabilidade. Sou defensor da ciência desenvolvida pela nossa Embrapa, e, abaixo, compartilho o link da entrevista concedida pelo atual Chefe Geral da Embrapa Ocidental ao JC. Aproveito também para comentar alguns pontos importantes levantados pelo CEO da Bemol em sua entrevista.

A colocação é impecável quando ele afirma que “…tiraria o BIO da frente de BIOECONOMIA. Vamos falar de ECONOMIA e de como os povos se desenvolvem…”. De fato, o discurso em torno da bioeconomia ressoa fortemente no sudeste, mas está claramente desconectado da realidade local. Acrescentaria que essa desconexão vai além do Brasil, sendo um reflexo global. O Chefe Geral da Embrapa Ocidental destacou em entrevista ao JC que a bioeconomia “já existe há pelo menos 120 anos no Amazonas”.

Seria interessante que Denis Minev tivesse acesso à recente apresentação da Embrapa sobre as tecnologias já disponíveis na instituição, que podem dar suporte ao que ele defende: geração de emprego, renda e segurança alimentar no interior, ao mesmo tempo em que se reduz a longa distância percorrida pelas cestas básicas em momentos de adversidade. Sua observação de que “…é complicado comprar terra legal na Amazônia...” é uma dura realidade.

Ao longo dos meus 35 anos como servidor público federal na Conab, 20 anos escrevendo para o JC e em meu blog Thomaz Rural, percebo que os principais entraves sempre estiveram ligados às questões fundiária e ambiental. Apesar dos bilhões de reais destinados a apoiar os povos e comunidades tradicionais, essas questões não são priorizadas. Isso cria a impressão de que não há um real interesse em resolver os problemas estruturais apontados na entrevista. Não é alarmante que o estado do Amazonas ainda não tenha seu Zoneamento Econômico-Ecológico (ZEE)? Essa ferramenta, essencial para o ordenamento territorial e prevista pela Política Nacional de Meio Ambiente, não é exigida nem pela ministra, nem defendida por ONGs ambientalistas, tampouco por quem ocupou ou ocupa a SEMA.

Quando o CEO da Bemol menciona “tacar fogo” e “queimar o resto” para viabilizar o empreendedorismo de quem não possui capital de giro na Amazônia, entendo que aponta para dois caminhos: um associado à sobrevivência, limitado até mesmo na capacidade de desmatar, e outro, ilegal. Nesse contexto, o ex-superintendente da Polícia Federal no Amazonas, Delegado Alexandre Saraiva, autor do livro Selva, reforça que os verdadeiros crimes ambientais na região não são praticados pelos pequenos produtores rurais, mas por organizações criminosas com forte influência no poder. Essa realidade mostra o quanto é urgente repensar o discurso e as ações para a Amazônia.

O sonho do Denis Minev sempre foi e continua sendo o meu. “COMIDA E RENDA PARA OS AGRICULTORES“. A EMBRAPA já sabe como fazer! Contudo, não vejo seguirmos essa direção. Em 2018, tínhamos metade do estado na pobreza, hoje, já temos 65.6%. É preciso destravar o estado, os gargalos apresentados na entrevista são crescentes. Um detalhe: Hoje, no IPAAM, tem 60 mil CAR parados, sem análise.

THOMAZ RURAL