Inaceitável desperdício já entrou em pauta. Que bom!

O governo do estado, a prefeitura de Manaus, sindicato dos feirantes e o Mesa Brasil /SESC já iniciaram entendimentos para reduzir esse inaceitável desperdício de alimentos.
Nícolas Daniel MarrecoManaus

A feirante Maria Cunha, de 43 anos, confirma o que as estimativas da Secretaria Estadual de Produção (Sepror) revelaram. Nas feiras de Manaus, todos os dias são despediçados cerca de 90 toneladas de alimentos. “Todo dia vejo o desperdício desenfreado de comida que não foi vendida, mas que ainda está boa para comer. Mesmo o lixo da feira misturando alimento com sujeira em geral, a gente percebe que o que mais enche os sacos são legumes e verduras”, disse.

A estimativa do desperdício de alimentos foi divulgada pelo secretário da Sepror, Petrúcio Magalhães, em uma reunião com agricultores familiares na qual ele anunciou um plano de redução de hortaliças, frutas e peixes jogados no lixo. Apesar do período atual ser ruim para as vendas devido as chuvas afugentarem grande parte da clientela, Maria explicou que os produtos são descartadas principalmente quando chegam “machucadas” na feira.

“Ninguém gosta de comprar uma fruta ou um legume quando está com alguma mancha por fora. Além disso, os itens que não conseguimos vender se estragam rápido, porque nem todo mundo tem refrigerador para conservar, aí não tem outro lugar para jogar”, explicou.

Atualmente, a capital abriga 45 feiras administradas pela prefeitura. A Secretaria Municipal de Agricultura, Abastecimento, Centro e Comércio Informal (Semacc) informou que os principais itens desperdiçados são as hortaliças, como cebolas, cenouras, pimentões e principalmente tomates.

“Pela própria logística de transporte dos alimentos, existe um intervalo de quase 20 dias entre o distribuidor e o feirante, em que parte das cargas naturalmente são desperdiçadas ou machucadas, quando batem em algo. O tomate, como vem de fora, são os mais propensos a perecer”, detalha nota oficial do órgão.

O motorista do caminhão de lixo, Francisco Silva, transporta por dia uma média de 18 a 20 toneladas de lixo da Feira da Banana, uma das maiores na comercialização de frutas em Manaus. Para ele, mais da metade do que ele leva ao aterro sanitário é alimento que ainda serviria para a mesa de alguém. “Temos três caminhões exclusivos para essa feira, e que são cheios três vezes por dia. Acompanho as caixas que chegam a encher o caminhão e, mesmo por alto, dá para ver que quase nada é lixo. Pedaços de frutas, outras ainda inteiras, que se acumulam e dariam para encher um bocado de prato”, opinou.

A Secretaria Municipal de Limpeza Pública (Semulsp) apontou que em 2018, aproximadamente 128,2 toneladas de lixo foram recolhidos por dia nas feiras de Manaus. A assessoria acrescentou, no entanto, que nem tudo foi necessariamente alimento, pois não houve coleta seletiva do que podia ser aproveitado.

Reutilização é uma alternativa

Os feirantes de Manaus se dividem quanto a possibilidade de reutilização dos alimentos. Enquanto uns jogam o que não é vendido no lixo, outros aproveitam  as frutas rejeitadas pelos clientes para fazer polpas. Na Feira da Banana, por exemplo, é possível perceber diversas bancas triturando abacaxis e mamãos machucados, dando uma alternativa sustentável tanto para a segurança alimentar como para as vendas.

O secretário da Secretaria Estadual de Produção Rural (Sepror), Petrúcio Magalhães, não deu um prazo  para implantar o plano de redução de desperdício nas feiras, item comentado na reunião com o setor produtivo, porém indicou que diálogos técnicos estão sendo feitos para ampliar em Manaus o projeto Mesa Brasil, do Serviço Social do Comércio (Sesc).

Na proposta do titular, um sistema de triagem para frutas e hortaliças fora dos padrões de venda – mas boas para o consumo – pretende escoar o que é desperdiçado,  que irá ser instalado em cada feira da cidade. O projeto piloto deverá ser implantado na Feira da Manaus Moderna, a maior no armazenamento de produtos alimentícios e na movimentação comercial, nos próximos meses.

Conab lamenta desperdício

O superintendente regional do Conselho Nacional de Abastecimento (Conab), Serafim Taveira lamentou a quantidade de alimentos jogados no lixo por dia em Manaus em comparação com a quantidade que o órgão arrecadou para famílias carentes. Ele disse que, em torno de 100 toneladas,  foram repassadas em dezembro do ano passado a pessoas em situação de vulnerabilidade.

“Imagine se conseguíssemos doar 90 toneladas por dia? É preciso de um redirecionamento urgente”, ressaltou.

Atualmente, cerca de 208 instituições da região metropolitana estão cadastradas para receberem os alimentos doados, somando mais de 250 mil pessoas, juntas.

A nutróloga Evelyn de Paula também chamou a atenção para o nível de segurança alimentar do manauense considerando a quantidade de legumes e verduras desperdiçados. “O prato da maioria é proteína mais carboidrato, ou arroz, macarrão e farinha. Pela tabela nutricional, isso está longe de atender as necessidades do corpo humano, além de abusar da saúde com a ausência de vitaminas e outros nutrientes. É quase um crime esse número de desperdício nas feiras, não somente pela educação alimentar, mas pelo tanto de famílias carentes que existem no nosso Estado”, disse.

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